O diagnóstico de câncer de mama pode ser um choque, especialmente para mulheres em idade reprodutiva que desejam ter filhos no futuro. Uma das preocupações que pode surgir nesse momento é sobre o impacto dos tratamentos oncológicos na fertilidade. Felizmente, com o avanço da medicina reprodutiva, existem opções para preservar a fertilidade antes do início do tratamento, permitindo que muitas mulheres tenham a chance de engravidar após o tratamento.

Como o Câncer de Mama Afeta a Fertilidade?

Os tratamentos para o câncer de mama, como quimioterapia, radioterapia e terapia hormonal, são eficazes no combate à doença, mas podem ter efeitos colaterais importantes sobre a fertilidade. A quimioterapia, por exemplo, pode danificar os ovários, diminuindo a quantidade e a qualidade dos óvulos. Dependendo do tipo de quimioterapia e da idade da mulher, esse dano pode ser temporário ou permanente. A radioterapia na região pélvica também pode afetar os ovários e o útero.

Além disso, a terapia hormonal, que é frequentemente usada para tratar o câncer de mama com receptores hormonais positivos, pode induzir uma menopausa temporária ou permanente, comprometendo a fertilidade.

Opções de Preservação da Fertilidade

Felizmente, existem várias maneiras de proteger a fertilidade antes de iniciar o tratamento contra o câncer. A escolha da melhor abordagem depende de fatores como o tipo de câncer, o estágio da doença, o tempo disponível antes do início do tratamento e os desejos da paciente em relação à maternidade no futuro. Vamos explorar as principais opções:

1. Congelamento de Óvulos

O congelamento de óvulos é uma das opções mais comuns e eficazes para preservar a fertilidade antes do tratamento de câncer de mama. Esse processo envolve a estimulação dos ovários para produzir múltiplos óvulos, que são então coletados e congelados para uso futuro.

  • Como Funciona: A estimulação ovariana dura cerca de 10 a 14 dias. Durante esse período, a paciente utiliza hormônios para estimular a produção de óvulos. Após o processo, os óvulos são coletados por meio de um procedimento de aspiração folicular, geralmente realizado com sedação. Os óvulos maduros são então congelados em nitrogênio líquido, onde podem permanecer preservados por anos até que a mulher esteja pronta para tentar engravidar.
  • Quando Usar: Esta é uma opção viável para mulheres que têm tempo suficiente para passar pelo processo de estimulação ovariana antes de iniciar o tratamento oncológico. É particularmente indicado para mulheres que não têm parceiro no momento, já que os óvulos são congelados sem serem fertilizados.

2. Congelamento de Embriões

Outra opção é o congelamento de embriões, que funciona de forma semelhante ao congelamento de óvulos, mas com a diferença de que os óvulos são fertilizados com o esperma do parceiro (ou de um doador) antes de serem congelados.

  • Como Funciona: Assim como no congelamento de óvulos, os ovários são estimulados para produzir múltiplos óvulos, que são coletados e, em seguida, fertilizados in vitro. Os embriões resultantes são congelados e podem ser utilizados posteriormente em tratamentos de fertilização in vitro (FIV).
  • Quando Usar: Essa opção é recomendada para mulheres que têm um parceiro ou que desejam utilizar esperma de um doador. O congelamento de embriões é um método com altas taxas de sucesso, mas exige que a mulher tenha certeza de que deseja utilizar o esperma daquele parceiro ou doador no futuro.

3. Congelamento de Tecido Ovariano

Para mulheres que não têm tempo suficiente para passar por um ciclo de estimulação ovariana antes do tratamento de câncer, o congelamento de tecido ovariano pode ser uma alternativa. Este procedimento envolve a remoção de uma parte do tecido do ovário, que contém folículos imaturos. O tecido é então congelado e pode ser reimplantado após o tratamento oncológico, permitindo que os ovários voltem a produzir óvulos.

  • Como Funciona: O tecido ovariano é removido por meio de uma cirurgia minimamente invasiva (laparoscopia). Ele é congelado e pode ser reimplantado após a recuperação do câncer. Em alguns casos, o tecido ovariano reimplantado pode retomar sua função e permitir a produção de óvulos e a gravidez natural.
  • Quando Usar: Esta é uma opção para mulheres que precisam iniciar o tratamento oncológico imediatamente e não têm tempo para a estimulação ovariana. Também pode ser uma alternativa para meninas que ainda não atingiram a puberdade.

4. Supressão Ovariana com Agonistas de GnRH

A supressão ovariana com agonistas de GnRH (hormônio liberador de gonadotrofina) é uma opção em que os ovários são temporariamente “desligados” durante o tratamento de câncer. Essa abordagem visa proteger os ovários dos efeitos nocivos da quimioterapia, reduzindo a atividade ovariana e, assim, diminuindo o impacto nos óvulos.

  • Como Funciona: O tratamento envolve a administração de medicamentos que suprimem a função ovariana, geralmente por injeções mensais, durante o período de quimioterapia. Isso reduz a exposição dos ovários à quimioterapia, embora os estudos sobre a eficácia dessa técnica ainda sejam inconclusivos.
  • Quando Usar: Essa opção é considerada menos eficaz do que o congelamento de óvulos ou embriões, mas pode ser uma alternativa para mulheres que não podem ou não desejam passar por procedimentos de congelamento.

5. Fertilização In Vitro Após o Tratamento

Se nenhuma das opções de preservação de fertilidade for viável antes do tratamento oncológico, ainda existe a possibilidade de recorrer à fertilização in vitro (FIV) após o tratamento de câncer, caso os ovários ainda estejam produzindo óvulos de qualidade suficiente. Outra opção é o uso de óvulos ou embriões doados, caso os ovários tenham sido comprometidos pelo tratamento.

  • Doação de Óvulos: Para mulheres que tiveram a função ovariana severamente afetada pelos tratamentos, a doação de óvulos é uma alternativa viável. Nesse caso, os óvulos doados são fertilizados com o esperma do parceiro, e o embrião é implantado no útero da paciente.

Considerações Finais

Preservar a fertilidade antes do tratamento de câncer de mama é uma decisão importante e que deve ser feita com acompanhamento médico especializado. As opções de preservação variam dependendo do tempo disponível antes do início do tratamento, da idade e da saúde geral da mulher, e devem ser discutidas com um oncologista e um especialista em reprodução humana.

É importante lembrar que a preservação da fertilidade é uma escolha pessoal, e que cada mulher deve sentir-se à vontade para tomar a decisão que melhor se adapta aos seus planos de vida. Conversar com um especialista sobre as opções disponíveis pode oferecer a segurança necessária para enfrentar o tratamento oncológico com mais confiança, sabendo que a maternidade pode continuar sendo uma possibilidade no futuro.